09 de outubro de 2024
02 de maio de 2019
Crise econômica impulsiona consumo de genéricos
A crise econômica e o desemprego em alta aceleraram a migração para os medicamentos genéricos no início deste ano no Brasil, impulsionando o crescimento do mercado farmacêutico. De janeiro a março, enquanto as vendas de remédios no geral cresceram 5,28%, o avanço em genéricos foi de 9,28%, para 356,7 milhões de unidades, segundo dados da IQVIA, que audita as vendas da indústria.
Em receitas, considerados todos os descontos concedidos (PPP, na sigla em inglês), o crescimento dos genéricos foi de 13,4%, contra 9% do mercado em geral. “O cenário econômico tem contribuído para a migração para os genéricos, que hoje representam o principal instrumento de acesso a medicamentos no país”, diz Telma Salles, presidente da PróGenéricos, entidade que congrega os 17 maiores laboratórios que atuam nesse mercado.
A confiança dos médicos também dá fôlego ao segmento. Dos 10 medicamentos mais prescritos no país, seis são genéricos, segundo auditoria da IQVIA nos balcões de drogarias e farmácias. Principalmente no tratamento de doenças crônicas, onde está concentrada a maior parte do portfólio, os pacientes têm aderido mais a essa classe de medicamento.
Hoje, esse segmento representa cerca de 34% do mercado farmacêutico nacional e há potencial para mais
Em 12 meses até março, as vendas de genéricos para tratamento de hipertensão arterial subiram 13,88%, contra 0,48% de avanço dos similares e queda de 6,44% dos remédios de referência (marca). Com esse desempenho, os genéricos representam 70,8% dos remédios para hipertensão comercializados no Brasil.
Entre redutores de colesterol, os antilipêmicos, os genéricos avançaram 21,67% no mesmo intervalo, enquanto similares caíram 18,7% e os de marca recuaram 1,32% – nesse caso, a participação dos genéricos, em unidades, é de 68,3%.
Hoje, os genéricos representam cerca de 34% do mercado farmacêutico nacional e há potencial para mais, seja através dos lançamentos, seja pela maior substituição do medicamento de referência. Em países maduros, como Estados Unidos e Alemanha, essa participação chega 80% e 70%, respectivamente. No Brasil, começaram a ser difundidos há 20 anos, na esteira da Lei 9787/99, cujo intuito foi estimular a concorrência.
Somente no ano passado, segundo dado da PróGenéricos, 15 moléculas inéditas foram lançadas no Brasil, com potencial de adicionar vendas anuais de R$ 920 milhões ao segmento de genéricos já considerados os descontos. “Existe o esforço das farmacêuticas para o desenvolvimento de novos produtos, mas o processo é complexo e pode levar de dois a três anos”, afirma Telma.
Soma-se a isso o prazo relativamente estendido para que um medicamento genérico ou similar receba o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou para que o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) responda a pedidos de marcas e patentes, o que acaba prolongando a exclusividade para além dos 20 anos previstos em lei.
De partida, conforme a legislação, os genéricos devem custar 35% menos que o remédio de referência. Porém, especialmente nos casos de moléculas com diversos fabricantes, os descontos podem chegar a até 80% – o que exige dos laboratórios habilidade na gestão de portfólio, a fim de garantir as margens do negócio.
Conforme a PróGenéricos, cujos associados respondem por 90% do mercado, desde 2000 a economia em gastos dos brasileiros com medicamentos chega a R$ 132 bilhões, considerando-se apenas o desconto previsto em lei. Hoje há 120 laboratórios que produzem genéricos no país.
Fonte: Valor Econômico – Jornalista: Stella Fontes